sábado, outubro 06, 2007

MAR


Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz.
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
seres um milagre criado só para mim.

Meio-dia.
Um canto da praia
sem ninguém.


Livre e verde a água ondula.
Graça que não modula, o sonho de ninguém.

Casa branca em frente ao mar
enorme, com o teu jardim de areia
e flores marinhas.
E o teu silêncio intacto
em quem dorme o milagre das coisas
que eram minhas.

Não há fantasmas nem almas,
e o mar imenso, solitário e antigo,
parece bater palmas.

Dia do mar no ar, dia alto.
Onde os meus gestos são gaivotas
que se perdem, rolando sobre as ondas,
sobre as nuvens.

Aqui nesta praia onde não há nenhum
vestígio de impureza,
aqui onde há somente ondas
tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
aqui o tempo apaixonadamente
encontra a própria liberdade.

Há muito que deixei aquela praia
de grandes areais e grandes vagas.
Mas sou eu ainda quem na brisa respira.
E é por mim que espera cintilando
a maré que vasa.

De todos os cantos do mundo,
amo com um amor mais forte e mais profundo,
aquela praia extasiada e nua
onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Mostrai-me as anemonas,
as medusas e os corais do fundo do mar.
Eu nasci há um instante.

A minha pátria é onde o vento passa,
a minha amada é onde os roseirais dão flor,
o meu desejo é o rastro que fica das aves,
e nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Reino de medusas e água lisa,
reino de silêncio luz e pedra.
Habitação das formas espantosas,
coluna de sal e círculo de luz.
Medida da Balança misteriosa.

Mar, Metade da minha alma
é feita de maresia.

Luz inunda a planície do mar,
mas ninguém cria gestos luminosos.
Sem que ninguém forme gestos na sua luz.

As ondas quebravam uma à uma.
Eu estava só com a areia
e com a espuma do mar
que cantava só p’ra mim.




Sophia de M. Breynner

Sem comentários: