quarta-feira, outubro 17, 2007

HOJE DEITEI-ME AO LADO DA MINHA SOLIDÃO





Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do meu próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
o mistério das palavras maduras
ou a brancura de um amor que nos prendia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até ouvir
o meu sangue jorrar na voz das fontes.




Eugénio de Andrade


1 comentário:

joaninha disse...

Quantas e quantas vezes nos deitamos ao lado da solidão...???
Mas creia, é preferível a solidão à desilusão... Essa é uma verdadeira catástrofe...
Os mistérios que embalam a nossa solidão, são os que nos dão alento para a fuga constante de um possível acompanhamento... A voz do sangue nunca será melodia se deixarmos que fale mais alto que a nossa razão...
Um grande beijo.