sábado, dezembro 29, 2007

NÃO GOSTO DO PAI NATAL


Não gosto do Pai Natal
Não gosto do Pai Natal
porque a mim já não me ilude:
todas as prendas que traz
dão-me cabo da saúde.

Traz no saco, que carrega,
cada vez mais sofrimento
e deixa-me logo «à pega»
baixando-me o vencimento.

Com discursatas perversas,
mil ilusões repartidas
enche o saco de promessas
que nunca serão cumpridas.

Eu não quero dizer mal
mas temos gostos opostos:
peço prendas plo Natal
e ele dá-me mais impostos.

E mal entra o Ano Novo
logo me cheira e pressinto
que eu, que pertenço ao Povo,
vou ter de apertar o cinto.

Sobe a água, sobe a luz,
e os aumentos são bem fortes
e, para aumentar a cruz
sobem também os transportes.

É pior de cada vez
que olho esse velho gaiteiro:
Já sei que vai sobrar mês
quando acabar o dinheiro.

No País em que vivemos
(somos quase 10 milhões)
Ali-Babás... poucos temos,
mas temos muitos ladrões.

Por isso é que não me ilude
este velhote atrevido:
Pai Natal é Robin Hood,
mas Robin Hood ... invertido.


FERNANDO PEIXOTO

segunda-feira, dezembro 17, 2007

POESIA


Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nosssa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça, é tudo tão verdade!





(J. Almada Negreiros, in "Mãe")

sexta-feira, dezembro 14, 2007

SAUDADE

Saudade é solidão acompanhada
é quando o amor ainda não foi embora,
mas a amada já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudade,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.



(Pablo Neruda)

segunda-feira, dezembro 10, 2007

TROCANDO OLHARES


Se as tuas mãos divinas folhearem
As páginas de luto uma por uma
Deste meu livro humilde; se poisarem
Esses teus claros olhos como espuma

Nos meus versos d’amor, se docemente
Tua boca os beijar, lendo-os, um dia;
Se o teu sorrir pairar suavemente
Nessas palavras minhas d’agonia,

Repara e vê! Sob essas mãos benditas,
Sob esses olhos teus, sob essa boca,
Hão de pairar carícias infinitas!

Eu atirei minh’alma como um rito
Às trevas desse livro, assim, ó louca!
A noite atira sóis ao infinito!..




Florbela Espanca - Trocando olhares

sábado, dezembro 08, 2007

SAUDADE


"Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.


Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam- se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.


Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;s
e ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.


Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler..."


Miguel Falabella


Fabuloso! Dedico a todos os meus amigos de quem tenho saudade.

SIMONE DE OLIVEIRA





Vi Simone de Oliveira agora, no programa RTP Memória. Sempre tive por ela grande admiração. Aqui fica a DESFOLHADA para recordar!
(desligue a música do blogue)

terça-feira, dezembro 04, 2007

PARA ALÉM DO TEMPO


Esse amor sem fim, onde andará?
Que eu busco tanto e nunca está
E não me sai do pensamento
Sempre, sempre longe!

Esse amor tão lindo que se esconde?
Nos confins do não sei onde.
Vive em mim além do tempo.
Longe, longe, onde?

Por que não me surges nessa hora?
Como um sol?
Como o sol no mar,
Quando vem a aurora.

Esse amor que o amor me prometeu,
E que até hoje não me deu!
Por que não está ao lado meu?

Esse amor sem fim, onde andará?
Esse amor, meu amor,
Onde andará?

(Vinicius de Moraes)









domingo, dezembro 02, 2007

NÃO CONSTA NOS DICIONÁRIOS




ABANDONO
Quando a jangada parte e você fica.


ADEUS
O tipo de tchau mais triste que existe.


ADOLESCENTE
Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela.


ARTISTA
Espécie de gente que nunca deixará de ser criança.


AUSÊNCIA
Uma falta que fica ali, sempre presente.


FOTOGRAFIA
Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.


FILHO
Um serzinho adorável e todo seu, que um dia cresce e passa a ser todo dele.


GELO
Aquilo que a gente sente na espinha quando o amor diz que vai embora.


LEALDADE
Qualidade de cachorro que pouquíssimas pessoas têm.


LÁGRIMA
Sumo que sai dos olhos quando se espreme o coração.


OUSADIA
Quando o Coração diz para a
Coragem:
Vá!
E a Coragem vai mesmo.



Email recebido dum amigo