quinta-feira, janeiro 31, 2008

CARNAVAL


Ela passou na minha vida vazia

de boémio e sentimental

como passa num ato de tristeza

o relampago de alegria do carnaval...



Seus braços me envolveramcomo serpentinas frágeis de papel

e se romperam como as serpentinas

que se arrrebentam quando o vento sopra

e se soltam no céu...



Ela passou na minha vida, assim

tal como passa na monotonia de uma existência banal

a furtiva beleza e a loucura de um dia de carnaval...



Nossa história, - o romance desse dia

sem ódio, sem despeito, sem rancor,

sem ciúme, nem podemos lembrar,

teve o destino irreal de toda a fantasia

e a existência de um jato de lança-perfume

atravessando no ar...



O nome dela, não sei, ela não sabe o meu

- que importa? não faz mal

não fossemos nós dois apenas fantasias

não fosse a nossa história apenas carnaval!...



( Crônicas de JG de Araujo Jorge extraído do livro" No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969 )

domingo, janeiro 27, 2008

POESIA


Ser a moça mais linda do povoado,
Pisar, sempre contente o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.


Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho...
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho...


Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à "terra da verdade"...


Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.

Florbela Espanca

segunda-feira, janeiro 14, 2008

POESIA

A tua vida é uma história triste.
A minha é igual à tua.
Presas as mãos e preso o coração,
enchemos de sombra a mesma rua.

A nossa casa é onde a neve aquece.
A nossa festa onde o luar acaba.
Cada verso em nós próprios apodrece,
cada jardim nos fecha a sua entrada.


Eugénio de Andrade

quinta-feira, janeiro 10, 2008

E ALEGRE SE FEZ TRISTE



Aquela clara madrugada que
Viu lágrimas correrem do teu rosto
E alegre se fez triste como se
Chovesse de repente em pleno Agosto.
Ela só viu meus dedos nos teus dedos
Meu nome no teu nome. E demorados
Viu nossos olhos juntos nos segredos
Que em silêncio dissemos separados.
A clara madrugada em que parti.
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
Por onde um automóvel se afastava.
E viu que a Pátria estava toda em ti.
E ouviu dizer-me adeus: essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada.
Manuel Alegre
Foto:Leonor

domingo, janeiro 06, 2008

GOTAS




Na ponta de uma folha há uma gota indecisa

vai crescendo, redonda, pequenina

límpida e cristalina

como o esquife de um raio de luz...


De repente

à aragem ténue que passou

tremulou,

caíu...

E a gota pequenina sobre a terra fofa

desapareceu,

e o esquife de cristal partiu-se, e pelo espaço

livre, o raio de luz ressuscitou...

fugiu...


Eu conheço outra gota parecida:

- a vida...


J.G.Araújo Jorge

quinta-feira, janeiro 03, 2008

AMOR AMADO

Assim como os poentes
São rubros e as rosas,
Tão vivo é o meu amor por ti.
Com essa força atravesso
Todas as tempestades
E descubro em cada momento
A fonte da alegria.
No silêncio repito
O teu nome como um bálsamo
E sei que tu o meu repetes
como um apelo.
E o apelo não é vão
Pois com ele me dás as estradas
E os atalhos para chegar a ti.
Ao teu encontro vou
Com as rosas de Maio
Com as cerejas de Junho
Com as uvas de Setembro
E cada mês me dá para te levara sua novidade
Pois o amor faz novas todas as coisas.
Quando te não vejo vejo-te em todo o lado
E oiço-te em todas as vozes
Tu que és a única voz.
Em ti me refaço e me transformo
E fluo para ti como um grande rio
Na certeza de ti, que és o meu (a)mar.



Maria Teresa Dias Furtado