quarta-feira, dezembro 24, 2008


domingo, dezembro 14, 2008

SE QUERES SABER DE MIM

Se queres saber de mim
não olhes os meus retratos
julgando saber-me assim.

Se queres saber quem sou
não busque nas minhas respostas
quando perguntas onde vou.

Se queres saber quem é
esta que te sorri
não olhe para a mulher.

Que não me saberás pelo sorriso,
não me conhecerás pelas respostas,
meus retratos são imprecisos,
a cada dia traço novas rotas.

Se queres porventura, um dia,
entender deste coração,
olhe meus olhos primeiro:
é neles que mora a poesia
que me explica dia após dia
e me mostra por inteiro.

Se queres saber-me de fato,
recomendo-te menos cuidado,
muito carinho, pouca fala,
mais riso e tato, muito tato.



Débora Cristina Denadai

domingo, dezembro 07, 2008

DUAS QUADRAS








Não sei se tens reparado


Quando passeia, o luar


Pára sempre à tua porta


E encosta-se a chorar:



E eu que passo também


Na minha mágoa a cismar


Para junto dele, e ficamos


Abraçados a chorar!!!






Florbela Espanca
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Feminista em pleno século XIX
Florbela Espanca (1894-1930) foi uma das precursoras do movimento feminista em Portugal.
Teve uma vida tumultuada e inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade. Nasceu em Vila Viçosa, Portugal, em 08 de dezembro de 1894, batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. Porém, com a morte de Antónia, em 1908, João e sua mulher, Maria Espanca, criaram a menina. Não obstante, o pai só reconheceu a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.
Formou-se em Letras e foi a primeira mulher a freqüentar o curso de Direito na Universidade de Lisboa. Ao longo da vida, casou-se três vezes e enfrentou o preconceito social decorrente disso. Em 1919, após um aborto involuntário, publicou o Livro de Mágoas. Alguns anos depois, depois de um novo aborto, separou-se do segundo marido, lançando, então, o Livro de Soror Saudade (1923).
Seriamente abalada pela morte do irmão, escreveu o livro As Máscaras do Destino. Em 1930 tentou suicídio por três vezes, com falecimento na terceira tentativa, no dia de seu aniversário, após o diagnóstico de um edema pulmonar. Eternizada aos 36 anos, deixou para publicação póstuma sua obra-prima Charneca em Flor (1931).

quinta-feira, dezembro 04, 2008

A DOCE CANÇÃO


Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.

Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve,no chão,criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto,
Deus não soube,tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
-todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o aumente,
para trazer o universo
de pólo a pólo contente.



Cecília Meireles