quinta-feira, agosto 04, 2005

A CEIA DOS CARDEAIS


Peça em um acto, em verso, representada pela primeira vez no antigoTeatro de D. Amélia, em 24 de Março de 1902
Foram tantas as vezes que ouvi minha mãe dizer-me esta passagem da Ceia dos Cardeais, que nunca a esqueci.
CARDEAL GONZAGA, ao descrever aos 84 anos, seu amor aos 14 anos:
Quando lhe perguntaram:
"Em que pensa, cardeal?
Cardeal Gonzaga, como quem acorda, os olhos cheios de brilho, a expressão transfigurada
Em como é diferente o amor em Portugal!
Nem a frase subtil, nem o duelo sangrento...
É o amor coração, é o amor sentimento.
Uma lágrima... Um beijo... Uns sinos a tocar...
Um parzinho que ajoelha e que se vai casar.
Tão simples tudo! Amor, que de rosas se inflora:
Em sendo triste canta, em sendo alegre chora!
O amor simplicidade, o amor delicadeza...
Ai, como sabe amar a gente portuguesa!
Tecer de sol um beijo e, desde tenra idade,
Ir nesse beijo unindo o amor com a amizade,
Numa ternura casta e numa estima sã,
Sem saber distiguir entre a noiva e a irmã...
Fazer vibrar o amor em cordas misteriosas,
Como se em comunhão se entendessem as rosas,
Como se todo o amor fosse um amor somente...
Ai, como é diferente! Ai, como é diferente!
Pode-se lá viver sem ter amado alguém!
Sem sentir dentro d'alma - ah, podê-la sentir -
Uma saudade em flor, a chorar e a rir!
Se amei! Se amei! - Eu tinha uns quinze anos, apenas.
Ela, treze. Um amor de crianças pequenas,
Pombas brancas revoando ao abrir da manhã...
Era minha priminha. Era quase uma irmã.
Bonita não seria... Ah, não... Talvez não fosse.
Mas que profundo olhar e que expressão tão doce!
Chamava-lhe eu, a rir, a minha mulherzinha...
Nós brincávamos tanto! Eu sentia-a tão minha!
Toda a gente dizia em pleno povoado:
"Não há noiva melhor para o senhor morgado,
Nem em capela antiga há santa mais santinha..."
E eu rezava baixinho: "É minha! É minha! É minha!"
Quanta vez, quanta vez, cansados de brincar,
Ficávamos a olhar um para o outro, a olhar,
Todos cheios de sol, ofegantes ainda...
Era feia, talvez, mas Deus achou-a linda...
E, numa noite, a minha alma, a minha luz morreu!
Deus, se ma quis tirar, p'ra que foi que ma deu?
Para quê? Para quê?
Ah! Pois Deus não via que eu tinha coração!
Não via! Ah, não via! Não via!
Julgou que de um amor outro amor refloria,,
E matou-me... E matou-me!
Afinal,
Foi esse anjo, ao morrer, que me fez cardeal!
E eu hoje sirvo a Deus - a Deus, que ma levou...
Cardeal Rufo, o De Montmorency, limpando uma lágrima furtiva, enquanto as onze horas soavam no Vaticano:
Foi ele, de nós os três, o único que amou.

4 comentários:

joaninha disse...

Tantos de nós estamos em igualdade de circunstancias... Tantos de nós perdemos um amor, para que possamos amar outras pessoas, personificando a que nos foi tirada...
Gostei muito. Tive saudades!
Um beijo!

Leonor disse...

que engraçado!!
o meu pai também me recitava este mesmo trecho.

deveria reconhecer-te? nao, nao te reconheço...
já nos cruzámos por ai noutro espaço que nao o virtual?

beijinho da leonor

Anónimo disse...

Looking for information and found it at this great site... girls+boys anal fingering Prozac klub http://www.depressionantidepressantdrugp.info/Waterbeds.html Lipstick lesbian stories Body fat percentage machine washington water coolers fountains and filters Voyeur porn movie lesbians karina lombard Accutane law dictionary http://www.treatmentsacne2.info/Internet-marketing-company-firm.html used gmc yukon radiator

Anónimo disse...

What a great site »