segunda-feira, agosto 15, 2005

CESINA BERMUDES

Dra. Cesina Bermudes. Tive o prazer e o privilégio de conhecer esta grande mulher. Pequenina de estatura mas com um coração sem fronteiras. Foi ela que me acompanhou no decurso da minha gravidez e foi ela quem assistiu ao parto.

Ainda me recordo da frase que ela dizia sempre que lhe aparecia uma mulher grávida: Gravidez não é doença! Depois, com a maior alegria, dava-nos conselhos e vivia cada situação como se as crianças fossem dela. Na realidade, todos ficaram na história como "os bébés Cesina",

Costumava fazer uma reunião de grávidas em casa dela para nos mostrar com fotos e desenhos como o nosso organismo é e como funciona.

Quando surgia algum parto mais difícil e demorado não saía do lado das grávidas chegando a dormir no chão ou em alguma cama desocupada na ocasião. Quando nos medicava, para começarmos logo a tomar o medicamento "emprestava-nos" uns tantos comprimidos que depois lhe devolviamos. Tudo o que sobrasse era-lhe entregue e destinava-se às menos favorecidas de quem ela cuidava com toda o carinho. Era uma mulher extraordinária, com uma energia exuberante. Fez todos os desportos, todas as viagens. Mas a principal aventura foi a introdução em Portugal do parto sem dor.

Nasceu a 20 de Maio de 1908, em Lisboa na freguesia dos Anjos e lembrava-se dos tempos da I Grande Guerra, "da falta de géneros e das bichas que havia às portas das mercearias e de todos os sítios que vendiam géneros alimentícios".

Cesina Bermudes acreditava na reencarnação. "Das minhas anteriores reencarnações não me lembro de nada. Mas nós temos tanta coisa que fazer neste mundo que não há possibilidade de o conseguir numa única vida. É muito mais inteligente que tenhamos vidas sucessivas para ir aprendendo a evolução, porque não há só a evolução física que o Darwin pôs em evidência. Há também uma evolução psíquica, dos sentimentos, dos pensamentos, das intuições, das criações. Como é possível chegar a criar uma sinfonia, a criar a ideia de uma catedral se as pessoas não tiverem já vindo cá várias vezes a este mundo para se treinarem na ideia da arte ou de qualquer outra coisa? Como é possível ser um místico, como um S.João da Cruz, ou um S. Francisco de Assis, se as pessoas não tiverem vindo aprender a ideia da fraternidade?"

Em 1954 vai a Paris estudar as técnicas do parto sem dor. Segundo ela era" absolutamente inconcebível que um acto perfeitamente fisiológico e natural fosse doloroso na mulher e fosse natural nas outras fêmeas mamíferas. É uma questão psicológica, mas para chegar a esta conclusão foram precisos uma quantidade de sábios. Só ao fim de muitos e muitos anos de medicina é que foi possível descobrir a importância do psicossomático no comportamento humano.".

Quando lhe perguntaram em que ser gostaria de reincarnar na próxima geração, respondeu:
"Se calhar voltava a ser médica. Em todo o caso será uma profissão liberal, porque é aquela onde se pode fazer o que se entende dever fazer. Precisava de uma reencarnação para me formar musicalmente. Nesta reencarnação desenvolvi, principalmente a capacidade de investigação científica. Sob o ponto de vista literário e desportivo também foi útil. Agora do ponto de vista musical não serviu para nada.".

Muito havia para dizer acerca desta mulher franzina, com passo apressado e o penteado de sempre: uma trança a emoldurar-lhe o rosto miúdo e o olhar vivíssimo.

Esta é a homenagem singela duma mulher que jamais a esquecerá.

Soube hoje que Cesina Bermudes partiu há quatro anos. Mas Cesina Bermudes continua entre nós. Bem-haja!

Leonor Costa

11 comentários:

stela disse...

Olá,
esta foi a 1.ª vez em que visitei o teu blog, comecei por este texto. Embora não conhecendo a Dra. Cesina, gostei muito de ficar a conhecer a história de um ser humano tão bom...
Foste uma felizarda, nem todas tem essa sorte :-)

bjs

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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Unknown disse...

Olá

Hoje lembrei-me de procurar informações sobre a Dra. Cesina Bermudes, e eis que encontro diversos sites.
Não posso, não devo passar indiferente, sem antes prestar homenagem sincera e grata,a esta Mulher extraordinária que me ajudou a guardar os meus primeiros dois filhos...

Eu era então uma inexperiente mamã de 22 anos... é verdade que ela ficou ao meu lado, lendo o seu livro, enquanto esperava que as contracções se desenvolvessem... é verdade que quando me assistiu no nascimento da minha filha, ela celebrava 50 anos de profissão, 75 anos de idade!!!

E muito fica por dizer desta médica excepcional, tanto no que diz respeito ao desempenho da sua profissão como no amor com que a exercia!

Se a reencarnação existe, então que não demore a "voltar"... cada vez precisamos mais de seres verdadeiros que nos mostram como viver a verdadeira humanidade...

Grata por esta oportunidade de aqui deixar o meu comentário...

Anónimo disse...

Cesina Bermudes foi quem me ajudou a dar ao mundo em 1953, no Hospital de São José. Foi ela prórpia, na altura, e devido às suas opiniões anti-salazaristas que foi buscar a maca para transportar a minha mãe, porque ninguém a queria ajudar.
Ricardo Santos

Anónimo disse...

Falamos "NELA" em casa, curiosa.. e há espera de que outras a recordassem, vim à Net, encontrei, outra coisa não éra de esperar, "marcou" quem com ela conviveu
É com saudade que a recordo.. assistiu os meus 3 partos em 02Fevereiro de 1977 nasceu o Mário João, em 26/08/1982 a Alaxandra ( e aos 80 anos) em 26/09/1988 o Luis Miguel, que faz dentro de dias 20 anos, se a Drª vivesse tinha agora 100 anos.Um beijo de Eterna saudade.Isabel Pinheiro Santos

Nélinha disse...

Olá!
No Dia da Mulher recordei esta mulher extraordinária1 Eu sou um dos muitos "Bébés Cesina"! Tal como os meus dois filhos e três sobrinhos!Uma mulher muito à frente do seu tempo - há mais de trinta já advogava a presença do pai durante o parto!E que importantes foram esses momentos vividos a quatro: eu, o meu marido, a Dra Cesina e... o bébé! Nunca saía da cabeceira da parturiente e estava sempre disponível!Foi colega de curso do meu pai, que nela tinha uma confiança absoluta, e que, tal como ela, foi um verdadeiro "João Semana"!E tão simples,tão desprendida de bens materiais - costumava dizer que preferia que lhe dessem uma couve a um ramo de flores! Parece-me estar ainda a ver a sua figura franzina, com uma longa trança à volta da cabeça emoldurando.lhe o rosto!

JORGE MOURÃO disse...

Hoje acordei a pensar nos meus tios médicos e na Dra. CESINA BERMUDES.
A razão desta coincidência deve-se a ter encontrado na noite anterior um livro «HOMENAGEM A FÉLIX BERMUDES» ,que se notabelizou no desporto-atletismo,tiro ,esgrima e futebol.Participou nos JOGOS OLÍMPICOS DE ANTUÉRPIA(1920) E DE Paris em (1924) onde alcançou o 4º na prova de MESTRS ATIRADORES A 50 METROS. Ligado ao TEATRO escreveu em colaboração,ou apenas com a sua assinatura 105 peças de teatro.
O desportista nascido a 5 de JULHO de 1874 elaborou os ESTATUTOS de FUTEBOL de LISBOA e fundou o SPORT LISBOA e BENFICA.
Este homem que ganhava campeonatos aos 50 anos, é pai de CESINA BERMUDES
Por ter sido colega de meu tio Dr. Fernando Augusto Belo Pereira e ser considerada uma invulgar médica no seu ramo foi-me indicada para acompanhar o parto dos nossos 3 filhos CRISTINA-RUI eTERESA.Como fazia nessa altura o SERVIÇO MILITAR como Oficial na Força Aèrea na OTA ,combinávamos
os três o fim de semana mais perto do acontecimento,e lá estava
eu de agenda marcando a frequêcia
das contrações.No nascimento da Cristininha passámos a noite deitados e só sobre a manhã se deu
o feliz acontecimento,sem que contudo não tivéssemos apanhado um pequeno susto pelo cordão ser muito curto ,e ter havido uma retenção de placenta -mas a destreza e as suas palavras firmes JORGE ajude agora com o seu braço o tronco da sua mulher a vir a frente enquanto ela faz a respiração «do cão cansado».
Assisti ao nascimento dos meus três filhos e comparticipei com esta «GRANDE MULHER».
Naquela primeira noite vi a nossa DRA. CESINA com a sua trança desfeita a dormitar enquanto contava a frequência das contrações,e pensava com os meus botões -como esta mulher pequena,franzina,meiga e lutadora não pára para nos dar os nossos e seus filhos.
A fica o reconhecimento e nossa gratidão ,e se houver uma reencarnação conte comigo.
Um até sempre

João Fagundes disse...

Meu pai era colega da Drª Cesina e conheciam-se desde a faculdade. Mais tarde, na década de 60, fomos morar para o mesmo prédio da Cesina. Quando a minha mulher ficou grávida foi acompanhada pela Cesina, como não podia deixar de ser. Isto foi em 1975. As coisas não correram como o previsto e a minha filha acabou por nascer de cesariana. Mas durante toda a noite, e até ao fim da cirurgia, a Drª Cesina esteve permanentemente junto à minha mulher; e, tal como eu, pouco deve ter dormido. Apesar do seu passado de lutadora e resistente, creio que a Cesina nunca apresentou nenhuma factura ao Estado português pelos atropelos de que foi vítima pessoal e profissionalmente. Estou muito grato à Drª Cesina - por tudo.
João Fagundes

Nélinha disse...

Também eu bem como as minhas irmãs gémeas e os meus filhos somos orgulhosamente "bébés Cesina". O meu pai,também médico, tinha sido seu colega na Faculdade de Medicina e tinha nessa mulher admirável e muito inteligente a maior das confianças, por isso quando a minha mãe ficou grávida a primeira pessoa em que pensou foi na Dra. Cesina Bermudes. A Cesina era uma mulher muito avançada para o seu tempo.A sua figura franzina e a trança a emoldurar-lhe o rosto são uma imagem inesquecível.Era muito inteligente mas muito humilde. Recordo-me de a ouvir dizer:"prefiro que me dêem uma boa couve a um molho de flores - é que com a couve eu faço uma boa sopa e as flores não me servem para nada!".A Dra. Cesina acompanhou-me nas duas vezes que estive gávida e numa época em que não se falava de ecografias previa sem falhar o sexo e a data de nascimento do bébé. Na minha primeira gravidez disse-me: " vai ser um menino e vai nascer em finais de Junho" De facto a 27 de Junho de 1976 nasceu o meu primeiro filho. Na segunda gravidez disse-me:" Vai ser uma menina e vai nascer no início de Março" De facto a 11 de Março de 1981 nasceria a minha segunda filha. Mas mais do que isso a Dra Cesina fazia questão de que o pai assistisse ao parto e participasse no mesmo, o que para a época era algo de absolutamente inovador.