quinta-feira, novembro 29, 2007

TEU RISO

Leonardo da Vinci


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar,
mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu risos
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul,
a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.



Pablo Neruda

3 comentários:

Nilson Barcelli disse...

O poema que escolheste é fabuloso.
Não só pelo autor, mas principalmente pela mensagem e pela forma como é dita.
Bfs, beijinhos.

joaninha disse...

Gostei muito deste especial momento e assim, deixo um beijinho

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Neruda um poeta que tanto admiro.

Gostei da visita ao Beja. Volta sempre.

Bom fim de semana

Beijos