A razão por que se abre um livro para ler é a mesma porque se olham as estrelas: querer compreender. Mas não há nenhuma lei que obrigue as pessoas a levantar os olhos para o espaço ou a baixá-los para esse outro universo que é uma página escrita. Não há gosto sem curiosidade nem curiosidade sem gosto. Ler é uma necessidade que nasce da curiosidade e do gosto. Se não tens gosto nem curiosidade, deixa os livros em paz, porque não os mereces. Sempre haverá alguém para abrir comovido um livro, para querer saber o que está por trás das aparências.
~*~ NA CORRENTE DA VIDA ~*~
Veio na corrente da vida…. parou no meu coração...
sexta-feira, agosto 16, 2024
ACASO DE EXISTIR

sábado, junho 29, 2024
O RETRATO FIEL
Não creias nos meus retratos,
nenhum deles me revela,
ai, não me julgues assim!
Minha cara verdadeira
fugiu às penas do corpo,
ficou isenta da vida.
Toda minha faceirice
e minha vaidade toda
estão na sonora face;
naquela que não foi vista
e que paira, levitando,
em meio a um mundo de cegos.
Os meus retratos são vários
e neles não terás nunca
o meu rosto de poesia.
Não olhes os meus retratos,
nem me suponhas em mim.
sexta-feira, junho 28, 2024
Esta Gente
quinta-feira, junho 27, 2024
A LUA FOI AO CINEMA
segunda-feira, junho 17, 2024
NUNCA TE ACHEI NEM TE VI]
Nunca te achei nem te vi.
Mas, por imaginação,
Dói de ti meu coração:
Tenho saudades de ti.
Nunca, amor, te conheci.
Mas, sem saber se existes,
Meus olhos de ti estão tristes:
Tenho saudades de ti.
Quando outra achei, te perdi,
Só por a ter encontrado
Não sei se és sonho ou pecado
Sei que, enganado e exilado,
Tenho saudades de ti.
*
3-11-1935
Fernando Pessoa
quarta-feira, junho 05, 2024
Não me peçam razões…
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago, em “Os poemas possíveis”.