domingo, maio 10, 2009

HISTÓRIA BREVE DE UMA BONECA DE TRAPOS



Era uma vez uma boneca
Com meio metro de altura...
Insinuante, bonita,
Mas, pobremente vestida.
Um ar triste, __ uma amargura
Diluída no olhar...
_ Grandes olhos de safira,
E um sorriso combalido
Como flor que vai murchar.
Quase a meio da vitrine
Lá daquela capelista
Essa boneca de trapos
A ninguém dava na vista!
Ninguém via o seu sorriso!
Ninguém sequer perguntava:
Quanto vale a «marafona»?
Quanto querem p'la «Princesa»?...
Passaram anos. __ Com eles,
Foi-se a minha mocidade
E cresce a minha tristeza.
_Quem é que dá p'la Boneca
Que os meus olhos descobriram
Lá naquela capelista
Quase à esquina do jardim?...
_ Quem dá por Ela? Ninguém.
E quantas almas assim!




António Botto

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